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Jovem publica pedido de socorro no Facebook antes de morrer


Jovem publica pedido de socorro no Facebook antes de morrer Reprodução/
Foto: Reprodução









O pânico e a impotência circularam de forma instantânea. Um dos apelos mais dramáticos ecoou às 3h20min da madrugada. A protética Michele Cardoso usou o celular para disparar um alarme no Facebook. Escreveu somente quatro palavras, na pressa de quem está a perigo, o suficiente para noticiar o sinistro e implorar por ajuda. Ainda grafou o nome da boate com letras maiúsculas, para que não houvesse dúvidas sobre o local:


— Incêndio na KISS socorro.
Michele não mais se comunicou — seu nome apareceria depois na lista de mortos. Mas, naquele início de madrugada, as 21 letras que escreveu acionaram um grupo de amigos que passou a pedir informações — e multiplicar o SOS. Tudo na linguagem abreviada, sem vírgulas ou acentos, de quem digita um teclado virtual impelido pelo desespero, acreditando que alguns segundos ganhos podem salvar uma vida.
Letícia Côrtes foi a primeira a perguntar por Michele, às 3h40min:
— serio mii?
A partir daí, uma torrente de preocupações irrompeu na página do Facebook de Michele. Frases com letras engolidas, truncadas, evidenciaram a ansiedade de quem buscava um informe.
— Tu ta bem, um amigo acabo de me ligar dizndo q ta no hospital ajudando os feridos... — questionava Gláucia Pires, às 4h48min.
Um minuto depois, Gláucia insistiu com a amiga silenciosa. O ponto de interrogação ressou no vazio.
— ?????
Outras colegas se conectaram, aflitas por Michele.
— tu tá bem? — perguntou Daniela Sudati, às 5h30min.
— Miiiiiiiii — angustiava-se Jéssica Corrales Brandli, às 6h32min.
Confiando na ferramenta virtual, no minuto seguinte Jéssica voltou a clamar:
— tah beeem?!
Michele estava incomunicável, para tormento das colegas. Às 7h13min, Laady Soares Rosa engrossou o coro dos agoniados. Ela espichou as sílabas da mensagem, como se gritasse para amplificar a súplica:
— Miiiicheleee, ta bem? da notícias por faavor!



A tragédia
incêndio na boate Kiss, no centro de Santa Maria, começou entre 2h e 3h da madrugada de domingo, quando a banda Gurizada Fandangueira, uma das atrações da noite, teria usado efeitos pirotécnicos durante a apresentação. O fogo teria iniciado na espuma do isolamento acústico, no teto da casa noturna. 

Sem conseguir sair do estabelcimento, mais de 200 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. Sobreviventes dizem que seguranças pediram comanda para liberar a saída, e portas teriam sido bloqueadas por alguns minutos por funcionários.

 A tragédia, que teve repercussão internacional, é considera a maior da história do Rio Grande do Sul e o maior número de mortos nos útimos 50 anos no Brasil. 


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