O cheiro de verniz invade o ar à medida que um grupo de mulheres e homens corta e prepara a madeira para produzir tigelas destinadas a lojas de departamentos dos EUA. Em outras oficinas haitianas, vasos com lantejoulas rosas, verdes e azuis aguardam ser comprados, assim como libélulas recortadas de tambores de aço reciclado.
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Três anos depois de um terremoto devastador , ainda é preciso haver muita melhora econômica nesse pobre país caribenho, mas um pequeno nicho obteve um grande avanço: o artesanato.
A indústria artesanal desfruta de um impulso de grupos de defesa que ajudam a organizar os funcionários e melhorar a qualidade do trabalho. Grandes varejistas como Macy’s e a Anthropologie e três designers de luxo estão entre aqueles que trabalham com pelo menos cinco grupos para exportar artesanato haitiano.
"Notamos um aumento nas (nossas) vendas logo após o desastre", disse Michele Loeper, uma porta-voz da Ten Thousand Villages, uma das poucas varejistas dos EUA que compravam artesanato haitiano antes do terremoto. "De certa forma, foi a nossa maneira de fornecer o auxílio necessário para o país."
O número de artesãos aumentou e mais oficinas foram abertas ao redor de todo o Haiti, graças a uma injeção de mais de US$ 3 milhões de grupos como o Banco Interamericano de Desenvolvimento e do Clinton Bush Haiti Fund, organização sem fins lucrativos criada pelos ex-presidentes dos Estados Unidos Bill Clinton (1993-2001) e George W. Bush (2001-2009).
O número de artesãos empregados aumentou de 450 em setembro de 2011 para 2,1 mil em julho de 2012, de acordo com o Business Network Artisan, um grupo de defesa recém-formado com base em Porto Príncipe, Haiti.
Mas, em geral, cerca de 400 mil haitianos estão envolvidos em pelo menos algum tipo de trabalho artesanal, com cerca de 1 milhão dependendo de produtores artesanais, de acordo com um relatório de 2010 financiado pelo grupo canadense de Brandaid e pelo americano Internacional CHF (conhecido como Global Communities), que contribui para ajudar com o desenvolvimento sustentável.
"Queremos que as pessoas comprem do Haiti não por que têm pena dos haitianos, mas por que o produto é bem feito, o preço é bom e é algo que eles podem usar", disse Nathalie Tancrede, cofundadora da rede de negócios dos Artesãos.
Os lucros arrecadados pelos artesãos do Haiti se encaixam em uma tendência mais ampla chamada de "moda ética", na qual pequenas empresas empregam artesãos em países em desenvolvimento para produzir um tipo de produto com desenhos feitos à mão para os consumidores socialmente conscientes.
Não há números exatos sobre quanto o setor de artesanato do Haiti contribui para suas exportações, mas ele está muito atrás das roupas. O setor de vestuário representou 93% dos US$ 768 milhões de exportações do Haiti arrecadados no ano passado, valor que ultrapassou os US$ 563 milhões no ano do terremoto, segundo o Banco Central do Haiti.
O custo no Haiti pode parecer distante do custo do mesmo artesanato comercializado em uma loja nos EUA, onde o preço final é maior por causa dos gastos com transporte, estocagem, marketing e outros.
O artesão Felix Calixte disse que ganha US$ 6,5 para uma moldura de metal em um estilo semelhante ao que está à venda na Macy’s por cerca de US$ 40. Ainda assim, Calixte pode fazer três em um dia ganhando quase US$ 20, cinco vezes o valor da renda mínima diária no Haiti.
No distrito de Carrefour, um empresário curiosamente chamado Einstein Albert se inclina sobre os trabalhadores para inspecionar o processo final da construção das tigelas de madeira.
"Quando pensamos em Cuba, eles têm seus charutos. A Colômbia tem o café", disse Albert. "Se o Haiti tem uma imagem para vender e pode competir no Caribe, oferecer algo ou criar mais emprego, o fará por meio do setor de artesanato."
Cada tigela leva seis semanas para ser esculpida, lixada e selada com 13 camadas de verniz. Elas foram vendidas em lojas selecionadas da Macy’s por US$ 75 cada e por sites americanos de artesanato, juntamente com alguns hotéis de luxo em Porto Príncipe frequentados por trabalhadores humanitários, diplomatas e empreiteiros.
"As pessoas dizem que minha família acertou em cheio quando me chamaram de Einstein pois nós fornecemos produtos de qualidade", disse.
Por Martha Mendoza e Trenton Daniel
RESPOSTA AO "Artesãos prosperam no Haiti três anos após terremoto"
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